terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Confronto , 2008


O corpo é um espaço onde só habita um ser, neste caso pretendi colocar um corpo (o meu) onde estão mais que um ser ou forças opostas, espaço de confronto e de divisão, pondo em causa o equilíbrio psicológico da personagem, podendo levar á loucura.
O confronto trata-se de um jogo trágico ao qual Nietzsche designou por um jogo entre as forças apolineas e dionisíacas, estando sempre em confronto, ou se sobrepondo uma á outra e nunca entram em serenidade.
O primeiro desenho temos uma personagem em tudo normal a olhar-se ao espelho, mas esse momento traz-lhe algo de mais estranho na figura reflectida aparece algo estranha como se fosse outro ser a reflectir-se do outro lado (eu é um outro). Uma situação destas é assustadora porque tem-se medo da loucura, na nossa sociedade não há lugar para loucos, só nos manicómios e segundo François La Rochefoucauld “Descobrem-se maneiras de curar a loucura, mas não se encontra nenhuma para endireitar um espírito louco”. Este trabalho é marcado pelo medo de se estar louco e esconde-se dentro de si mesmo para que não seja descriminado pela sociedade cá fora.
No segundo e no terceiro desenho temos a mesma personagem neste caso virada de costas a olhar para a parede. No segundo desenho esta acompanhada pela sua sombra, “Mede a altura do teu espírito pela sombra que projecta”, Robert Browning, no terceiro está só, mas na parede há algo que se prenuncia, manchas que lhe comunicam algo, de um lado as forças apolineas do outro as que se sente mais atraído, as foças dionisíacas. Estes dois trabalhos embora diferentes partiram da mesma influência e caminham ambos para o mesmo lado, que é a razão de se sentirem inferiores a algo com que só eles é que comunicam e que está dentro deles e os está a levar para uma penumbra.
Estes foram influenciados por uma musica dos Mão Morta que é um diálogo de mim para mim como que houve-se um outro: “… Tu disseste agora procuro o desígnio da vida. Ás vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. Escrevo páginas a tentar formaliza-lo. Depois queimo tudo e prossigo a minha busca. Eu disse eu não faço nada. Fico horas a olhar para uma mancha na parede Tu disseste e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível? Eu disse não. A mancha continua no mesmo sitio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada Tu disseste e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. Liberta-te do corpo tu é que não vês. Eu disse o que é que isso interessa? Tu disseste …nada.” …
Neste desenho temos a mesma personagem que nos outros desenhos, só que neste caso ela está virada para nós com um ar agressivo e animalesco, mas não é para nós que está a olhar, é para dentro de si para o confronto de forças que estão a decorrer em si, que dificilmente entraram em concilio, poderá é haver o adormecimento de uma delas, deixando uma prevalecer. Essas forças espirituais são tão presentes que praticamente se exteriorizam, deixando assim o observador perceber o tormento deste ser.
















Procura de uma liberdade


Procura de uma liberdade, 2008, 1 #19
O trabalho é apresentado em forma de caderno de artista composto por dezanove desenhos divididos em quatro momentos. O primeiro momento e composto por um desenho a dar as boas vindas a minha casa, que e o meu corpo, e convidando o observador a desfolhar o caderno e assim poder dar um passei pelo meu interior olhando para a minha cadeia.
O segundo momento é composto por seis desenhos, neles vemos um ser amordaçado por personagens ligadas á igreja, querendo que nesta carcaça exista alguém que não coincide com o espírito que lá habita. Cedendo a essa exigência vai se dar a minha morte espiritual, para que possa sobreviver como técnico de restauro de arte sacra, e ter dinheiro para viver neste mundo materializado e capitalista. E desta forma poder trabalhar naquilo que gosto, embora tenha de esconder algumas partes de mim e alguns dos meus ideais, ou seja, tenho de ter duas caras.
























O terceiro momento é também composto por seis desenhos, agora a personagem nela representada encontra-se com a cabeça coberta e presa a ideias dos outros (igreja), esta situação transmite-me claustrofobia. E assim vou tentando libertar-me desta prisão que construi em mim mesmo, poder voltar a ser eu mesmo, de mente aberta sem ter de sofrer preconceitos de ninguém e principalmente de mim mesmo. Alguns destes desenhos já se tornaram mais limpos abandonando a grafite, colocando no seu lugar aguadas de tinta da china. Esta limpeza do desenho serve para transmitir a limpeza e a libertação do meu espírito em relação a tribos sociais e a culturas predefinidas, para passar a ser eu mesmo.























A quarta e ultima parte é constituída também por seis desenhos e neles me represento como um cadastrado em que se lhe mete uma etiqueta, e é assim que me sinto quando me tratam por gótico, algo que acho que não tem fundamento pois não me identifico com essa tribo social, não e por ouvir musica pesado, ou porque falo de questões sociais que estão a aumentar, como o suicídio, que o tenha de ser. Desta forma rasgo essa etiqueta como forma de protesto e afirmo quem eu sou um ser de corpo e alma que tem pelo nome Ricardo Cardoso.